O casamento entre a guitarra baiana e os soundsystems jamaicanos pode roubar a cena no Carnaval de Salvador deste ano e confirmar a entrada do grupoBaianaSystem para o primeiro escalão do pop nacional. O grupo formado por Roberto Barreto, Russo Passapusso, Marcelo Seko e Filipe Cartaxo está prestes a lançar seu segundo disco, gravado no final do ano passado, e vai usar o Carnaval para apresentá-lo pela primeira vez ao vivo. A faixa "Lucro (Descomprimindo)" dá o tom do novo disco ao questionar disparidades sociais e políticas sem perder o groove - o que dizer de uma letra que rima "especulação imobiliária" com "minissaia" sem perder o rebolado?
"O Carnaval é uma grande referência estética para nós em muitos sentidos", explica o guitarrista Beto Barreto, que antes de montar a banda em 2009 já havia tocado com a Timbalada e feito parte do grupo Lampirônicos. "A ideia de pensar o trio elétrico como um grande soundsystem abre muitas possibilidades. A festa popular e todos os signos envolvidos nisso, o canto dos blocos afros e a percussão, as imagens que passam por caretas, máscaras, pinturas, fantasias etc. É um universo muito lúdico, que durante muito tempo para nós aqui em Salvador ficou estereotipado e perdido dentro de todos os problemas trazidos pela indústria da música e do Carnaval."
O grupo começou a participar do Carnaval no ano seguinte à sua fundação, quando fizeram um trio aberto ao público - sem a famigerada "corda" que separa os foliões populares daqueles que pagaram para ficar mais próximo do trio. O primeiro trio teve participações de BNegão e Lucas Santtana e homenageou Ramiro Musotto, percussionista e produtor argentino radicado na Bahia, cujas pesquisas de ritmos e beats foram cruciais para o surgimento do grupo - e que morreu no final de 2009. "Ninguém conhecia o BaianaSystem e o som causava um estranhamento. Mas ao mesmo tempo era um estranhamento que trazia referências muito próximas daquele ambiente, Russo trazia a experiência de mestre de cerimônias das festas de Soundsystem que comandava no MiniStereo Público, e isso tem muita liberdade, muito de festa de rua, de carnaval", continua Beto.
O estranhamento inicial passou e aos poucos o Baiana foi levantando sua principal bandeira: a de misturar sons e culturas diferentes, a partir de uma divisão natural que existe em qualquer grande cidade do país e que se acentua em Salvador, melhor exemplificada pela divisão entre ricos e pobres no Carnaval da capital baiana. "Pensamos sempre no Carnaval como parte criativa e importante, tanto artisticamente como no que isso pode colaborar com o mercado como um todo", continua Beto.A questão do Carnaval participativo, de rua, mais democrático onde sejam respeitados os espaços e a diversidade são assuntos que nos interessam e tentamos colaborar no que pudemos com essas mudanças que são fundamentais para que a festa sobreviva
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