Entrevistar Ivete Sangalo é a mesma operação de guerra de qualquer musa pop internacional que desce para o País. Fãs na porta do local - desanimados, é verdade, pelo sol inclemente da quarta-feira, 27 -, um incontável número de seguranças espalhados por cada curva do caminho até o quarto onde ela aguarda a reportagem, e um mais impressionante número de pessoas dentro da sala com ela, de operadores de câmera, som, assessores, produtores e outros cuja função parece um mistério. Entrar no mundo de Ivete Sangalo, na divulgação de um trabalho, é saber que será fotografado, filmado, gravado. Ela, acostumada com o fuzuê de ser a dona da voz mais popular do Brasil, não se incomoda. E até gosta.
“Ainda bem que tem bastante gente, né?”, brinca a cantora baiana sobre a quantidade de jornalistas que já aguardavam, no andar de cima, para uma coletiva que também seria transmitida ao vivo pela internet. “Se não tivesse tanta gente, eu estaria lá na rua, gritando: ‘Gente, prestem atenção, acabei de lançar meu disco!’” Ela cai na gargalhada com a própria piada.
O disco que Ivete Sangalo estaria divulgado aos gritos na rua se não fosse Ivete Sangalo é Acústico em Trancoso, mais um trabalho ao vivo da cantora que se especializou nesse formato de registrar suas performances no palco, algo que lhe é, garante ela, muito mais confortável do que o formato fechado de um estúdio. “No estúdio, pode-se fazer, refazer, tentar de novo. Gosto desse formato ao vivo porque sou uma pessoa muito mais emocional. Sou totalmente emocional.”
Acústico em Trancoso, lançado em formatos de CD (com dois discos vendidos separadamente) e um DVD, foi registrado no município de mesmo nome de Porto Seguro, na Bahia, e é também o primeiro lançamento dela dentro do formado desplugado, com instrumentos acústicos. E, embora ele siga à risca a ideia de deixar os instrumentos elétricos de lado, ela também não se enquadra no formato mais tradicional com o qual se está acostumado. Ivete Sangalo não seria Ivete Sangalo se gravasse o disco sentadinha em uma cadeira rodeada por violões. É desplugado, mas a cantora levantou a poeira do formato. “Encontramos novos caminhos, traduzimos algumas canções para o disco”, ela explica. “Acho que o deslocamento da minha zona de conforto me colocou uma outra visão de como fazer as coisas.”
E não é só na postura - em pé - que Ivete transforma o acústico em algo só dela. Das 25 músicas do DVD, oito são inéditas, um número alto e também pouco comum. É claro, hits radiofônicos como Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim, estão incluídos no repertório, mas há espaço para novas experiências, como Seus Planos, canção que nasceu dos momentos nos quais Ivete observava seu filho Marcelo, prestes a completar 6 anos, minutos antes de acordar pela manhã. É uma canção delicada, com ukelelê, que acaba por se “enquadrar em qualquer tipo de amor”, ela explica.
Ivete Sangalo diz gostar do formato acústico, cita Nirvana e Pearl Jam como as bandas donas dos discos Unplugged que ela mais gosta, e ainda garante ser fã da banda de rock pancada System of a Down. “Meus sobrinhos chegam em casa, me veem dançando e pulando as músicas do System of a Down no volume máximo e dizem: ‘Tia, você é muito engraçada”, ela ri. É justamente neste momento que Ivete Sangalo deixa de ser o que se espera de Ivete Sangalo.
Fonte> http://www.clicfolha.com.br/noticia/58868/ivete-sangalo-lanca-primeiro-acustico
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